Também podemos considerar este, como um romance de espaço. Está dividido em três partes, devido aos locais onde a ação se passa e cada um deles a par da descrição feita pela autora, é-nos descrito sob o ponto de vista de Camilo, quando está presente.
Considerado a história de um triangulo amoroso, pelo relacionamento e a paixão de Camilo por Fanny no momento em que José Augusto decide (ou é levado a decidir) que a ama e a quer, se o fosse, rompeu-se esse triângulo quando Camilo diz a José Augusto que deixou de amar Fanny e lhe pede que ele se afaste dela, porque a vai destruir.
Este romance é uma narrativa da vida social da burguesia, nos finais do séc. XIX que nos conta os amores infelizes (ou funestos) das três personagens: José Augusto que se volta para Fanny porque a entrega e admiração de Maria por si o enfadava e retirava a vontade de a amar; Fanny que cansada da vida na casa paterna e desejosa de amar convence José Augusto a raptá-la para escapar; e Camilo que confessa que a amou a dada altura mas que o amor deles não passou de um "amor epistolar", em cartas que entrega a José Augusto no dia do casamento deste com Fanny.
Por isso, ou porque de facto o amor nunca existiu entre os dois, a vida do casal vai ser dor e desencanto apesar da obsessão de um pelo outro, nem que fosse pelo simples facto de existirem e estarem juntos.
No entanto, e aqui a minha singela opinião que como todas as opiniões pessoais, vale o que vale, este é um romance que versa sobretudo sobre o relacionamento de dois homens completamente diferentes um do outro e que a vida se encarrega de por frente a frente e sujeitá-los aos seus constrangimentos.
José Augusto é um pseudo poeta, fidalgo, com uma forma de estar que não é recomendável desafiar, pelo seu feitio sisudo e pouco dado a manifestações de simples alegria. Camilo por sua vez é um verdadeiro poeta, com uma história familiar muito própria e algo devassa. Os encontros entre os dois nem sempre terminam da melhor maneira, no entanto, acabam sempre por se reencontrar e desejarem redimir-se dos males que se tenham causado. A tal ponto, o relacionamento é importante para eles que mesmo quando Fanny pede a José Augusto que se afaste de Camilo porque a relação entre os dois, alimenta uma prossível traição de José Augusto com uma amiga dos dois homens, José Augusto não o faz.
Não é um relacionamento de amor eros que os une, mas um amor agape ou phillia, alimentado pelas diferenças entre os dois, como se só com esse relacionamento se completassem. Como se a falta de um provocasse no outro a falta de algo maior.
A narrativa de Agustina Bessa-Luís é detalhada e demorada e faz-nos perder nos meandros dos espaços e da ação, com a demora que pode em alguns casos aborrecer um leitor que espere ação no verdadeiro sentido da palavra. É para ler sem pressa e deixar que o ambiente e a realidade oitocentistas nos envolvam. A última parte, as cenas entre José Augusto e Fanny são sobremaneira demoradas e como se repetidas, mas ajudam-nos a entender o sentimento de cada um deles. Percebemos que amam sem se amarem um ao outro e que a rutura provocada com a morte de Fanny, é ainda assim fatal para José Augusto. É Camilo quem nos conta pelas palavras da autora.
Sem comentários:
Enviar um comentário