sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Desafio de escrita dos pássaros #6




Desafio:

Escreve uma história romântica baseada no clássico "O Amor, uma cabana… e um frigorífico"


 Mariana abriu a porta de casa. Era a primeira vez que entrava em casa e a encontrava vazia. Há muitos meses que a rotina era a mesma, mas nesta tarde, não seria.
Ficou parada, sobre o tapete, como se esperasse ver alguém aparecer das três divisões que abriam para aquela entrada. Quando se capacitou que ninguém apareceria, entrou e fechou a porta devagar, em silêncio, para que a sua entrada fosse o mais silenciosa possível. Como se fosse necessário todo o cuidado, não fosse o ruído estragar o momento. Queira entrar, como se não entrasse. Sem acender a luz, largou a mochila em cima do sofá e ficou, mais uma vez parada, à espera.
Durante as últimas semanas, desejara como louca, um dia chegar a casa e ter a casa só para ela. Em silêncio, vazia de gente e sem ter de ouvir falar, sem ter de ir para a cozinha fazer qualquer coisa para comer, porque Duarte trabalhava em casa, mas sempre esperava que ela chegasse para comer, chegasse ela a que horas chegasse. E agora, ali estava com o desejo realizado.
Respirou fundo e foi para a cozinha. Hoje sentia fome. Não comera nada o dia todo, ansiosa com a aproximação daquela hora em que chegaria a casa e ninguém lá estaria para a receber. E agora a fome dava sinal.
Tirou uma peça de fruta do frigorifico vermelho que era um grito na cozinha toda em tons pastel e fechou a porta, acompanhando-a, num gesto dançado. Mordeu a maçã, abriu a porta e saiu para o quintal, o imenso quintal que ninguém imaginava, vindo da frente da casa.
Mordeu a maçã, e rodou para ficar de frente para a casa. Na realidade era uma cabana, uma cabana de quatro divisões incluindo a casa-de-banho e a cozinha. Uma cabana, escolhida por dois, no meio do nada, para dar largas a um amor que poderia durar, não fosse a ideia de Mariana comprar aquele maldito frigorifico vermelho, que tanto exasperou Duarte, mais virado para as coisas pastel, mornas, insonsas…
Mariana deu nova dentada na maçã e sorriu, com os olhos postos no frigorifico que estava de frente para a porta. Afinal, mesmo com uma cabana, no meio do paraíso, nem todo o amor resistia a um frigorifico daqueles.

4 comentários:

Miluem disse...

Olá ����️
Gostei muito do texto.
������

cantinhodacasa disse...

Interessante.

Alexandra disse...

O amor tem que resistir a um frigorífico vermelho... homem esquisitinho pah!! :)

Belinha Fernandes disse...

Não estou a mentir, mas um dos meus desejos actuais de consumo era comprar um diabólico frigorífico vermelho esmaltado, tipo aqueles americanos antigos, vintage, com cromados! Quando falo nisso toda a gente fica horrorizada...Não só por causa do frigorífico vermelho, mas também por ele, gostei muito do texto!