quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Novas leituras

 A aproximação do início de mais um semestre traz a necessidade de conhecer matérias e novas leituras obrigatórias ou aconselhadas. 

Tenho dado por mim a ler obras que nunca me passariam pela cabeça ler, umas que são uma grata surpresa outras apenas uma surpresa e resolvi partilhar com quem passa por aqui as últimas três descobertas (para mim).

José Eduardo Agualusa nasceu na cidade do Huambo, Angola em 1960 e entre as várias obras escritas e premiadas, aqui está Nação Crioula. Este livro conta a história de um amor secreto: a misteriosa ligação entre o aventureiro português Carlos Fradique Mendes e Ana Olímpio Vaz de Caminha que tendo nascido escrava foi uma das pessoas mais ricas e poderosas de Angola.

Esta história com o nome do último navio negreiro que viajou de África para o Brasil.chega-nos através de cartas que Fradique escreveu ao longo de vinte anos dirigidas à sua madrinha Madame de Jouarre, ao seu amigo Eça de Queiroz e à mulher amada Ana Olímpia. 

Podemos considerar que este livro está dividido em duas partes - uma que é a correspondência de Fradique e outra que como sendo uma conclusão é uma carta de Ana Olímpio a Eça de Queiroz onde nos são dados a conhecer alguns detalhes que Fradique não menciona nas suas cartas, alguns deles porque ocorreram depois da sua morte. A escravatura e a colonização do Brasil são a par da história de amor e dela fazendo parte integrante, os temas das cartas escritas.

A dada altura, numa das cartas Fradique conta que ouviu um marinheiro cantar a letra de uma poesia de Castro Alves chamada Navio Negreiro que partilho aqui:

Senhor Deus dos desgraçados! 
Dizei-me vós, Senhor Deus! 
Se é loucura... se é verdade 
Tanto horror perante os céus?! 
Ó mar, por que não apagas 
Co'a esponja de tuas vagas 
De teu manto este borrão?
... Astros! noites! tempestades! 
Rolai das imensidades! 
Varrei os mares, tufão!



Mia Couto nasceu na Beira em Moçambique em 1955. Foi jornalista, professor, biólogo e escritor.

Esta obra consta de 12 contos onde nos são mostrados fragmentos curtos e profundos das vidas do povo moçambicano. Não sendo possível estabelecer preferências, porque não foram contadas para nós preferirmos ou "despreferirmos" tive uma preferida "A história dos aparecidos". 
Depois de umas cheias que levaram gentes e bens, dois homens que tinham sido levados pela corrente e supostamente tinham morrido, voltaram à aldeia. A confusão que a sua volta originou, está bem presente em todo o conto e passo a transcrever duas "falas" que nos mostram como as pessoas deixam de fazer parte de um grupo e quando voltam a sua reintegração, que neste caso deveria ser feliz é muito complicada e incómoda.
- Não interessa se morreram completamente. Se estão vivos ainda é pior. Era melhor terem aproveitado a água para morrerem-se.
E uma outra, onde depois de os aceitarem de volta, como fazendo parte do mundo dos vivos e como tal tendo direitos, os alertaram:
- Mas os dois aparecidos é bom serem avisados que não devem repetir essa saída da aldeia ou da vida ou seja lá de onde. Aplicamos a política de clemência, mas não iremos permitir a próxima vez.

Vou terminar com uma frase que está na contracapa do livro e nos diz: 

"O que mais dói na miséria é a ignorância que ela tem de si mesma".




Pepetela, pseudónimo de Artur Pestana, nasceu em Benguela, Angola em 1941.  Licenciado em Sociologia foi representante do MPLA e ajudou a criar o Centro de Estudos Angolanos.

Esta obra é constituida por 5 contos e mais não posso dizer porque tendo sido a que mais me custou encontrar para comprar, ainda não a li, mas tenciono fazê-lo brevemente.


1 comentário:

Luma Rosa disse...

Uau!! Grandes sugestões! Delas só li "Nação Crioula". Vou anotar as outras sugestões para não perdê-las!