O Monte dos Vendavais é uma das grandes obras-primas da literatura inglesa. Único romance escrito por Emily Brontë, é a narrativa poderosa e tragicamente bela da paixão de Heathcliff e Catherine Earnshaw, de um amor tempestuoso e quase demoníaco que acabará por afectar as vidas de todos aqueles que os rodeiam como uma maldição. Adoptado em criança pelo patriarca da família Earnshaw, o senhor do Monte dos Vendavais, Heathcliff é ostracizado por Hindley, o filho legítimo, e levado a acreditar que Catherine, a irmã dele, não corresponde à intensidade dos seus sentimentos. Abandona assim o Monte dos Vendavais para regressar anos mais tarde disposto a levar a cabo a mais tenebrosa vingança. Magistral na construção da trama narrativa, na singularidade e força das personagens, na grandeza poética da sua visão, nodoso e agreste como a raiz da urze que cobre as charnecas de Yorkshire, O Monte dos Vendavais reveste-se da intemporalidade inerente à grande literatura.
Neste meu percurso que fez com que lesse livros que em outra altura não iria ler, este foi mais um deles, de entre muitos. É um daqueles clássicos que toda a gente deve ler ou já deve ter lido.
Mas que eu apenas li agora com mais de meio século de vida, porque foi livro que nunca me chamou, não é o meu género de leitura preferido, mas embora não pense voltar a ler, devo dizer que é muito bom. Toda a trama está magistralmente apresentada e os personagens são tão "reais" que cheguei a odiar alguns deles.
Partilho a análise à obra, aproveitando para dizer que é de facto, a forma como a autora nos apresenta cada personagem que nos provoca as emoções que nos levam a amar ou a odiar essa personagem, como se estivessemos em algum momento a confrontá-la ou a ser confrontados por ela. É essa mestria que dá a certas obras, esta incluída, o nome de obra-prima.
Publicado em 1847 sob o pseudonimo de Ellis Bell Wuthering Heights é uma obra prima da literatura inglesa que na altura em que foi escrita, dada a violencia e a paixão narrada levou a que os críticos acreditassem que tinha de facto sido escrito por um homem, em especial porque foi escrita numa altura em que as mulheres não tinham voz, ou não deveriam ter, pelo menos. Emily Bronte ultrapassou esse fato e até nos mostrou o papel das mulheres da época e uma crítica a esse papel, através das personagens femininas e do seu papel na narrativa.
Foi o único livro escrito pela autora Emily Bronte que pareceu transcrever para os cenários da sua obra, a atmosfera do lugar onde vivia.
Estamos perante uma narrativa polifónica que nos é apresentada por dois narradores-personagens. O primeiro que inicia a narração é Lockwood, inquilino de Heathcliff, na Granja de Trushcross, que por sua vez nos apresenta Helen Dean, a sua governanta, sendo através desta que tomamos conhecimento do que aconteceu 18 anos antes.
A autora cria personagens de carater forte e destemido, onde a paixão e o desejo de vingança andam de mãos dadas. Heathcliff uma das duas personagens principais, cresce maltratado pelo irmão adotivo sem se manifestar contra os abusos, como se o relacionamento com Catherine fosse uma compensação para todos os maus tratos que servirão de justificação para, anos mais tarde se vingar, de alguma maneira, de todas as pessoas com quem, por algum motivo, se cruzou. Hindley porque o maltratava, recebeu a vingança post mortem na pessoa do seu único filho que foi criado por Heathcliff como um escravo; Edgar porque casou com Catherine, recebeu a vingança na pessoa da filha de ambos quando Heathcliff arranjou para que ela se casasse com o primo, seu filho e de Isabella a quem desposara para magoar Catherine; e a própria Catherine a quem desejou que nunca descansasse, nem depois de morta, enquanto ele fosse vivo.
- Oxalá acorde em tormento! – gritou com assustadora veemência, batendo o pé e gemendo num inesperado paroxismo de incontrolável paixão – Foi mentirosa até ao fim! Onde está ela?... Catherine Earnshaw que não descanses enquanto eu viver!
A continuação do desabafo, diz-nos que o desejo de vingança é apenas por amor e pela dor por ter ficado só, pois não suporta viver sem ela. Se alguma dúvida houvesse que de que as ações de Heathcliff têm como razão o amor que sente por Catherine, seja ele doce ou amargo, ficavam clarificadas.
- Fica sempre comigo, toma qualquer forma, enloquece-me, mas não me deixes neste abismo onde não te posso encontrar! Oh, Deus, é indízivel! Eu não posso viver sem a minha vida! Eu não posso viver sem a minha alma!
Conseguimos perceber ao longo da narrativa que Helen Dean, ou Nelly como Catherine lhe chamava, é a única pessoa que cresce a par e ao lado de todos os personagens e contra quem Heathcliff não tem qualquer ato de vingança, já que ela é a pessoa que serve de ligação entre ele e uns e outros.
Esta obra tem todas as carateristicas do período romântico, em que as emoções e a instrospeção guiam o individuo que sente e pensa no que sente. A riquísima linguagem e a narrativa complexa a par das personagens, leva-nos para dentro da narrativa e sentimos que embora sendo personagens mais do que secundárias, já que não afetamos nenhuma parte da narrativa, o que lhes toca toca-nos a nós e acabamos por fazer parte do local e do tempo e sofrer com as personagens alguns dos seus sofrimentos.
1 comentário:
Deduzo que anda acelerada em leituras com interesse na história da literatura universal. Felicito-a Eu também vou lendo sempre que posso, mas vida de reformado com cabeça fervilhante é muitíssimo ocupada.
Acabei de ler «Bisavô»; agora, algumas revistas culturais até férias, e porque ando a fazer a revisão do último conto de um próximo livro de minha irmã; antes tinha sido a revisão de «Contos à Janela», etnograficamente interessantíssimo.
E quando é que regressa à escrita?
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