terça-feira, 28 de agosto de 2018

O Boi que Guardava o Sábado (1ª parte)



Nicholai Panchuk era pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Kiev. Responsável por várias igrejas e grupos, foi preso pelo KGB que exigiu que ele denunciasse a localização dessas igrejas e os locais de culto dos vários grupos. Se essa denuncia fosse levada a cabo, os seus membros seriam caçados e sujeitos ás mesmas atrocidades que Nicholai estava a experimentar desde que fora preso.

Negando-se a fazer a denuncia, explicando que as pessoas confiavam nele e dependiam dele e de forma nenhuma as iria trair, foi condenado à detenção num campo de prisioneiros na Sibéria.

Numa viagem de comboio de mais de dez dias, tentava imaginar o que lhe reservaria o futuro, mas nunca lhe pareceu muito brilhante e cada vez que orava, entregava tudo nas mãos do seu Criador, imaginando que morreria cedo e em horríveis condições.

A vida no campo, começava mal amanhecia e isso acontecia antes das cinco da manhã (no verão) e terminava mal o sol se punha, muito perto das onze da noite. Não havia muros, nem grades, nem guardas armados e Nicholai imaginou porque seria - quem se atreveria a fugir dali? Para onde iria e como conseguiria sobreviver ao isolamento, à falta de mantimentos e à distância de centenas de quilómetros até à povoação mais perto, sempre correndo o risco de ser atacado por lobos siberianos.

A primeira sexta-feira chegou, sem percalços e quando anoiteceu Nicholai experimentou a primeira angustia física e psicológica, a sério. Como iria, prisioneiro num campo daqueles, guardar o Sábado - se a sua religião o proibia de trabalhar ao Sábado e ali, não havia lugar a folgas ou dias santos?
Depois da formatura matinal e diária, em vez de se deslocar para o seu local de trabalho habitual, voltou à caserna e decidiu de joelhos, entregar o dia em oração, nem mesmo saindo para comer.

No final do dia, deram por falta dele e começou o inicio de dois anos de constantes torturas.

Era encerrado numa caixa de madeira, no estábulo, onde ficava sentado sem se poder mexer, durante 10 dias. Na primeira vez não teve direito a nenhum tipo de alimento ou água e nas outras vezes, recebia água uma vez por dia e pão escuro na mesma altura. A sua única companhia era o boi que servia para transportar a água para o campo desde uma nascente, todos os dias da semana e à noite recolhia ao estábulo para descansar. Nickolai perguntou várias vezes se era este a forma que o seu Deus lhe dera para que ele guardasse o Sábado.

Com a visita de um oficial ao campo, que ficou chocado com aquela tortura, Nickolai foi libertado dela e após dois anos e conseguiu finalmente dizer que não queria deixar de trabalhar, até não se importava de trabalhar mais horas diárias que os outros, só queria descansar no dia de Sábado, porque queria fazer a vontade de Deus.
Escutando e quase divertido, o oficial fez um acordo com Nickolai. Passaria a trabalhar no transporte da água - única tarefa no campo que poderia parar um dia, se nos outros dias conseguisse transportar água suficiente para colmatar a paragem.
Em cada dia o boi fazia cinco viagens à nascente, de onde trazia no final do dia dez barris de água, para o dia seguinte. Se Nickolai conseguisse durante a semana fazer uma viagem a mais por dia, garantiria a água do dia de Sábado.
Mas para isso teria que fazer viagens rápidas e ao fim do primeiro dia percebeu que o boi não estava para isso. Mantinha o seu andar calmo e lento, parando onde lhe apetecia para comer capim e Nickolai entrou em desespero. 
Nunca iria conseguir a água necessária para o dia de Sábado. Tinha que obrigar o boi a fazer a sua vontade e não a dele. Tinha que arranjar forma de obrigar o boi a andar mais depressa, nem que para isso tivesse que o impedir de parar para comer no caminho.  Nesta altura, viu-se no papel do diretor que queria que ele Nickolai fizesse a sua vontade e não a própria e orou em desespero, pedindo perdão pelo exagero e por ter achado que tinha condições para cumprir com a promessa feita ao oficial e pedindo forças para aguentar a próxima sessão de tortura que começaria mal chegasse o próximo sábado.

Devido ao longo da coisa, continuará no próximo post.

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